

Não lembro exatamente o dia em que o conheci. Tenho a vaga lembrança de uma figura branca caminhando próximo ao bloco em que meu namorado morava. Ele era um gato jovem, porém alguns meses mais velho que a minha gata Fluff.
Algum tempo depois eu casei e vim morar no condomínio e poucos meses depois mudei para um apartamento onde diariamente eu avistava aquela figura branca. Pela manhã era possível avista-lo escolhendo sua refeição em uma poça de água que se formava no asfalto da avenida do condomínio, local em que as pombas adoravam tomar banho.
Ele nunca entrava no bloco, nunca entrou em nenhum apartamento e toda vez que alguém se aproximava para lhe dar colo, ele fugia.
Passei a carregar ração dentro da mochila ou no bolso da jaqueta. Se não o avistasse pela manhã ao sair para a aula, o avistava a noite quando estava retornando pra casa.
Nas primeiras vezes tive que colocar a ração na calçada e me afastar. Algum tempo depois consegui acariciar suas orelhas brancas. Nada mais que um pequeno toque.
Conforme o tempo foi passando ele começou a me seguir, mesmo eu não servindo ração. Ração que, aliás, ele sempre deixava pela metade porque já tinha lanchado uma ou duas pombas durante o dia.
Com o tempo além de sua atenção, conquistei seu carinho e já podia carrega-lo no colo, coçar sua barriga e seu queixo.
Fiquei sabendo que alguns moradores já tinham tentado adota-lo, porém sem sucesso. Ele sempre fugia e voltava pra rua.
Tinha vários nomes: Mimi, Branquinho, Fantasminha, mas eu o chamava de Penadinho.
Alguns anos depois, ele apareceu com uma ferida na orelha e precisou ser tratado.
Abriguei-o para tratamento. Ele passou por uma cirurgia e por um longo período de recuperação.
A partir daí foram várias tentativas para encontrar um dono que se dispusesse a trata-lo de acordo com as necessidades de um gato de oito anos que passara por uma cirurgia de retirada de tumor e que não poderia de forma alguma pegar sol.
Resolvemos então, eu e meu marido, adota-lo.
Do momento em que tomamos essa decisão, até o momento em que tivemos que decidir pela sua partida em 27 de dezembro de 2008, tivemos a melhor experiência de amor incondicional que se pode ter.
Penadinho tinha um temperamento doce, um olhar sedutor que fazia com que as suas ‘borrifadas de xixi’ (mesmo sendo castrado) se tornassem sempre um episódio cômico.
Ele carimbou a textura da parede, edredom, travesseiro, bolsas, a CPU do computador, o estabilizador, estante, rack, balcão, cadeiras, minhas pernas, etc..., etc..., etc...
Em julho de 2009, Penadinho teve uma otite que não cedia apesar do tratamento. Seu focinho começou a sangrar e em outubro ele passou novamente por uma cirurgia (dessa vez no focinho) para cauterização de tumor. Infelizmente, não foi possível cura-lo. Ele ficou extremamente debilitado e tivemos se solicitar sua partida.
Sua presença será sempre lembrada, seja nas noites frias, que ele sempre arrumava um modo de entrar pra baixo das cobertas sem que nós víssemos por onde, seja quando o dia amanhece e as pombas começam a voar dos ninhos, horário em que era possível ver seus olhos brilharem ao olhar pela janela acompanhando o vôo dos pombos, seja nas madrugadas em que me acordo no meio da noite e não ouço mais seus miados me avisando que ele quer ser levado para cama no colo.
Penadinho foi especial de uma forma inexplicável e sentiremos eternamente saudades de beijar sua barriga gorda.