sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

São Francisco na porta do céu - por Suzane de Castro




São Pedro tirou férias e São Francisco o substituiu, por bem conhecer a alma humana.
Após alguns dias, no entanto, notou-se que menos pessoas estavam entrando no céu.
Um anjo curioso foi ver se descobria porque e ficou a observar São Francisco.

O próximo da fila era um homem bem apessoado, de aparência até nobre.
Qual não foi o espanto do anjo quando viu que, enquanto o homem se aproximava de São Francisco, pulou no colo do Santo um belo pastor alemão.
- Feroz, aí está o seu antigo senhor. O que me dizes? – perguntou o Santo ao cão.
- São Francisco, ele me deixou preso a uma corrente minha vida inteira, fizesse sol ou chuva, e me chutava e me batia todo o tempo. Até que um dia não resisti e estou aqui!
Ao homem, São Francisco fechou as portas do céu.

Então, foi a vez de uma senhora de aparência bondosa.
No colo do Santo, uma gata persa que disse:
- São Francisco, ela me mostrava aos amigos que chegavam e passeava comigo no shopping. Mas em casa, me esquecia num canto e viajava sem me deixar água ou comida suficiente. Quando adoeci, sem ao menos tentar me salvar, ela mandou me sacrificar e comprou outro pobre animal.
São Francisco também lhe fechou as portas do céu.

Chegou então uma jovem.
Uma gatinha novinha logo pulou no colo do santo.
A jovem disse assustada:
- Mas nunca tive filhotes! Somente um gato macho que ainda vive!
A gatinha miou baixinho:
- Eu sou um dos filhotinhos que seu gato gerou na rua e que, abandonados, desnutridos, morreram doentes poucos dias depois de nascidos. Tudo porque você não queria castrá-lo nem deixá-lo em casa.
Essa jovem também não entrou no céu.

Finalmente, chegou a vez de um senhor idoso.
Mas, quando ele chegou a São Francisco, nenhum animal apareceu.
O Santo perguntou:
- Nunca tiveste um bicho de estimação?
O senhor respondeu:
- Não! Porque não quis animais de estimação.
Verificadas outras pendências, São Francisco abriu as portas do céu para o homem.

O anjo, surpreso, perguntou:
- Mas ele desgostava tanto dos bichos que nem os tinha!

São Francisco respondeu:
- Não ter bichos não é pecado. Os homens que dizem gostar e os têm e os tratam mal, como se fossem bibelôs ou brinquedos, se esquecem que seus animais de estimação não são suas criaturas, mas criaturas de Deus aos homens confiadas para alegrar suas vidas. Esses sim, prestarão contas de como cuidaram dos animais sob sua responsabilidade.

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Texto de Suzane de Castro, advogada, publicado na Revista PULO DO GATO, Edição nº 12

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

TEXTO IMPORTANTE PARA PROTETORES - por Marlene Nascimento

A eficiência de uma pessoa que trabalha na causa animal não deve ser medida pelo número de animais que esta pessoa possui ou que recolheu, cuidou, esterilizou e doou, mas sim pelo número de pessoas que ela conseguiu fazer com que tomasse esta atitude.

Muitas pessoas se julgam protetoras porque salvaram, doaram ou adotaram algumas dezenas de animais que estão em suas casas ou foram doadas. Essa atitude é válida e merece nossa consideração. São poucos os seres humanos que doam seu tempo e seu dinheiro para salvar uma vida. Menos ainda quando se trata de um animal em situação de rua, que é considerados por muitos como uma ameaça à saúde pública.

Por outro lado, ao nos sensibilizarmos com o sofrimento de um animal, devemos tomar o cuidado com a atitude de querer salvar todos os animais do mundo, criar uma culpa interna e perpetuar atitudes de tomar o lugar dos outros.

Exemplos práticos, simples e reais

Toda vez que seus amigos encontram um problema com animais, o que é que eles fazem? Ligam rapidamente para você, relatam o caso e você sai correndo para ajudá-los.

Toda a vez que algum amigo “precisa” se desfazer de um animal, você fica “doido(a)” procurando um novo dono para o mascote antes que ele o jogue na rua.

Sempre que algum conhecido deixa sua cadela ter uma cria, você é a pessoa contatada para ajudar nas doações. E, muitas vezes, até paga a esterilização da cadela.

Quando um animal adoece, de quem seus amigos lembram?

Quando acontece uma tragédia com animais, qual a pessoa que todos vão lembrar de ligar para relatar, nos mínimos detalhes, o acontecido dizendo: "Lembrei de você!"

Quantos animais são abandonados na porta de sua casa?

Parabéns! Você realmente é uma pessoa solidária, tem muitos amigos e, com certeza, cada vez mais você terá pessoas que vão lembrar de você.

E você?

E a sua vida, como esta? Sua conta bancaria, como anda? Como você dorme à noite com tantos telefonemas que começam com "lembrei de você!"?

Você não esta se sentido cada dia mais impotente frente ao grande número de acontecimentos tristes que você toma conhecimento?

Nós amamos os animais, mas o primeiro ato de amor é o não-prejuízo. Esteja atento(a), pois atitude justa é aquela que melhor se ajustar à situação precisa. O amor sem justiça corre o risco de ser apenas emotivo, não criando melhores condições de vida para todos os seres.

Se você esta “resolvendo” o problema de seus amigos, você esta ajudando muito mais a eles do que aos animais. E ainda criando uma situação desgastante para você.

Ajudar não é fazer as coisas em lugar de outro, e sim permitir que estes se saiam bem sozinhos. Se não, criamos um ciclo vicioso de dependência.

Pense bem

Se você pode, seus amigos (ou as pessoas que te ligam) também podem!

Se você fizer por eles, esta tirando a oportunidade de eles mesmos fazerem o bem. Atos não-justos que aprecem à nossa frente são para nos ensinar, para nos levar a tomar uma atitude justa. E atitude justa não é chamar alguém para tirar o problema da sua frente, mas sim resolvê-lo.

Se você resolver os problemas se seus "amigos", você vai ter tantos “lembrei de você” que sua vida se tornará um caos. E um dia, não poderá ajudar todos os “amigos” que te procuram. E os animais continuarão sofrendo.

Antes de amar os animais, você tem que amar a si mesmo(a).

Compaixão, sabedoria, sofrimento e indignação

A compaixão sem sabedoria pode nos tornar apenas ativistas cheios de boa vontade, mas também sem discernimento e profundidade. Isso pode ser uma fonte inesgotável de sofrimento. A nossa atitude de fazer o bem no lugar de outros nos leva a um grande sofrimento tamanha é a quantidade de problemas que chegam até nós.

Sofrimento existe. Ele não depende de nós. O que depende de nós é a atitude de não cultivarmos este sentimento e esta dor de tal maneira que nos impeça de tomar atitudes coerentes. Há bastante sofrimento no mudo. É inútil acrescenta-lhe o nosso. Constatá-lo sem a possibilidade de transformá-lo não muda nada. O mesmo acontece com a indignação. Não adianta a indigna-se sem uma atitude para a mudança. Isso não passa de um movimento emocional estéril.

O amor, a compaixão, o sofrimento e a indignação são sentimentos que podem transformar o mundo para melhor se usados com sabedoria.

Vamos apresentar a situação de outra maneira

Em vez de escolher a vitimização e o desespero, vamos escolher a inteligência e a esperança.

Você não é culpado pelo sofrimento do mundo. Cada vez que um amigo ligar para você pedindo ajuda, aproveite a oportunidade de dizer para ele como fazer o bem. Isso faz bem!

Também fale a ele o quanto você é feliz podendo dormir tranqüilamente por saber que faz a sua parte e como é importante que ele também o faça.

Ensine-o a se sair bem sozinho e não faça o bem no lugar dele. Acredite, muitos vão agir e a satisfação por salvar uma vida é algo indescritível. É contagioso. E logo teremos um exército de pessoas agindo na causa animal.

Estimule a ação das pessoas boas.

Corremos o risco de não agradar algumas pessoas, mas estas são do tipo que derramam uma lágrima e tranquilizam a consciência. São as que acham que o mundo não tem solução e não fazem nada para melhorar.

Não fique focado nelas. Leve sua atenção para as pessoas do bem. Você vai ser sentir mais feliz e otimista e vai ter discernimento para saber quando a sua ajuda é necessária.

Não se preocupe: 99% das pessoas são boas. O problema é que as pessoas boas estão ficando de braços cruzados. E esta na hora de serem estimuladas a agir.

Nada como um animal em sofrimento para mobilizar grandes grupos. A maioria fica só no passo da indignação e do sofrimento, mas sempre aparece alguém que toma uma atitude.

Tomar uma atitude não é ligar para amigos, para os órgãos públicos, para as protetoras, para o presidente da República.

Tomar uma atitude é fazer o que tem que ser feito, mesmo que tenha que gastar nosso tempo e dinheiro.

Pense mais

O importante na causa animal é não perder o hábito de pensar. É não perder a esperança e focar nas coisas boas que estão acontecendo. Não estamos mais sós. Muitos foram tocados e estamos em pleno processo do despertar do coração.

A boa noticia é ninguém precisa esperar nem mais um instante para participar desta mudança, basta mudar a si mesmo e, depois, pensar em mudar o mundo.

QUEM

Marlene Nascimento é médica veterinária, especialista em Saúde Pública , fundadora e presidente do Clube Amigos dos Animais de Santa Maria RS.

Em 2008, a instituição protetora Clube Amigos dos Animais, afiliada à WSPA, foi a vencedora na categoria Bem-Estar Animal. Localizada em Santa Maria , RS, a ONG concorreu à indicação com trabalho desenvolvido pelo Projeto Vida, voltado para a sensibilização e a educação das pessoas para a guarda responsável de animais domésticos. Segundo a médica veterinária Marlene Nascimento, dirigente da instituição, o prêmio é importante para dar visibilidade às ações realizadas pelo movimento de proteção animal.

sábado, 17 de julho de 2010

Penadinho.




Não lembro exatamente o dia em que o conheci. Tenho a vaga lembrança de uma figura branca caminhando próximo ao bloco em que meu namorado morava. Ele era um gato jovem, porém alguns meses mais velho que a minha gata Fluff.

Algum tempo depois eu casei e vim morar no condomínio e poucos meses depois mudei para um apartamento onde diariamente eu avistava aquela figura branca. Pela manhã era possível avista-lo escolhendo sua refeição em uma poça de água que se formava no asfalto da avenida do condomínio, local em que as pombas adoravam tomar banho.

Ele nunca entrava no bloco, nunca entrou em nenhum apartamento e toda vez que alguém se aproximava para lhe dar colo, ele fugia.

Passei a carregar ração dentro da mochila ou no bolso da jaqueta. Se não o avistasse pela manhã ao sair para a aula, o avistava a noite quando estava retornando pra casa.

Nas primeiras vezes tive que colocar a ração na calçada e me afastar. Algum tempo depois consegui acariciar suas orelhas brancas. Nada mais que um pequeno toque.

Conforme o tempo foi passando ele começou a me seguir, mesmo eu não servindo ração. Ração que, aliás, ele sempre deixava pela metade porque já tinha lanchado uma ou duas pombas durante o dia.

Com o tempo além de sua atenção, conquistei seu carinho e já podia carrega-lo no colo, coçar sua barriga e seu queixo.

Fiquei sabendo que alguns moradores já tinham tentado adota-lo, porém sem sucesso. Ele sempre fugia e voltava pra rua.

Tinha vários nomes: Mimi, Branquinho, Fantasminha, mas eu o chamava de Penadinho.

Alguns anos depois, ele apareceu com uma ferida na orelha e precisou ser tratado.

Abriguei-o para tratamento. Ele passou por uma cirurgia e por um longo período de recuperação.

A partir daí foram várias tentativas para encontrar um dono que se dispusesse a trata-lo de acordo com as necessidades de um gato de oito anos que passara por uma cirurgia de retirada de tumor e que não poderia de forma alguma pegar sol.

Resolvemos então, eu e meu marido, adota-lo.

Do momento em que tomamos essa decisão, até o momento em que tivemos que decidir pela sua partida em 27 de dezembro de 2008, tivemos a melhor experiência de amor incondicional que se pode ter.

Penadinho tinha um temperamento doce, um olhar sedutor que fazia com que as suas ‘borrifadas de xixi’ (mesmo sendo castrado) se tornassem sempre um episódio cômico.

Ele carimbou a textura da parede, edredom, travesseiro, bolsas, a CPU do computador, o estabilizador, estante, rack, balcão, cadeiras, minhas pernas, etc..., etc..., etc...

Em julho de 2009, Penadinho teve uma otite que não cedia apesar do tratamento. Seu focinho começou a sangrar e em outubro ele passou novamente por uma cirurgia (dessa vez no focinho) para cauterização de tumor. Infelizmente, não foi possível cura-lo. Ele ficou extremamente debilitado e tivemos se solicitar sua partida.

Sua presença será sempre lembrada, seja nas noites frias, que ele sempre arrumava um modo de entrar pra baixo das cobertas sem que nós víssemos por onde, seja quando o dia amanhece e as pombas começam a voar dos ninhos, horário em que era possível ver seus olhos brilharem ao olhar pela janela acompanhando o vôo dos pombos, seja nas madrugadas em que me acordo no meio da noite e não ouço mais seus miados me avisando que ele quer ser levado para cama no colo.

Penadinho foi especial de uma forma inexplicável e sentiremos eternamente saudades de beijar sua barriga gorda.